terça-feira, 18 de março de 2014

quarta-feira, 12 de março de 2014

Sardão

Na terra onde o meu pai nasceu

Havia um carrasco
Maior do que o mar.
Do seu topo tocavam-se estrelas e manhãs
E a luz doce do luar.
Os seus galhos eram fortes,
O verde das suas folhas não tinha rival,
E era à sua sombra fresca,
Naqueles meses de um calor de rachar,
Que as gentes daqueles sítios
Paravam para descansar.
Na terra onde o meu pai nasceu
Havia uma fraga
Mais velha do que o tempo.
Do seu cume viam-se olgas e olivais
Que foram fontes de sustento.
As suas faces eram da cor dos musgos,
E era na sua grandeza,
Quando a chuva forte estava para chegar,
Que os animais se escondiam,
E os ventos fortes de leste
Gostavam de se sentar.
Na terra onde o meu pai nasceu
Havia uma santinha
De muita devoção.
Do seu rosto choviam graças e sorrisos
Que acalmavam o coração.
O seu nome era Bárbara,
E era ao seu coração de santa
Que todos dirigiam rogos e lágrimas,
Quando arribavam fogos sem rumo
E o ribombar das trovoadas.
Na terra onde o meu pai nasceu
Havia uma bela história
Que ainda ninguém quis contar.
Do seu enredo nasci eu
E muito do meu sonhar.
Por muito que os anos corram
E as ervas continuem a cobrir o chão
Nunca te esquecerei,
Ó meu querido Sardão.

 Poema de Carlos Afonso, publicado com autorização do autor, a quem agradeço esta partilha íntima.